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Painel 9 – Estratégias de valoração do digestato

O nono painel do 6º Fórum Sul Brasileiro Biogás e Biometano teve como tema “Estratégias de valoração do digestato”, com moderação da analista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Fabiane Antes. Para a doutora em Química, muitas vezes, quando se fala em projetos de biogás, ele vem como uma alternativa de energia renovável e a gestão como valor agregado a essa cadeia, porém, soluções para esse uso, como fertilizantes, não estão disponíveis da forma como o produtor precisa. “Sabemos que em algumas regiões isso não é possível porque o solo está saturado de nutrientes, então o objetivo desse painel é falar dessas alternativas”, salientou.

O painel teve como palestrantes Caio de Teves Inácio, doutor em Agronomia e pesquisador da Embrapa Agrobiologia; Marcelo Bortoli, doutor em Engenharia Química e professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR); e Acácio Martins, mestre em Gestão de Recursos da Área Ambiental e especialista de Desenvolvimento de Negócios e Sustentabilidade da Yara Brasil Fertilizantes.

Caio Inácio iniciou a sua fala com uma provocação. “Nosso produto é o biogás ou o digestato? Financeiramente falando é o biogás, mas enquanto massa física, é o digestato. E se ele é o nosso produto, onde está o seu valor? Ele está nos nutrientes presentes. Porém, precisamos de tecnologia para aproveitar esses nutrientes de forma adequada e que gere receita”, ressaltou.

Em sua palestra focada na produção de fertilizantes fosfatados, o pesquisador apresentou o potencial da estruvita para a obtenção de fósforo de segunda geração a partir de digestatos. Para Inácio, existe um problema em escala não-linear no manejo de dejetos e nutrientes, pois existe complexidade no gerenciamento e na tecnologia. “Precisamos parar de chamar o digestato de fertilizante. Precisamos concentrar esse nutriente em algum produto para conseguirmos distribuir esses nutrientes em uma distância muito maior, e por isso precisamos investir em tecnologia para ampliar esse raio”, afirmou.

Explicando que tecnologia é sinônimo de complexidade e exige novas formas de gerenciamento, Inácio destacou que o fósforo de segunda geração pode ser usado como matéria-prima para outros produtos, além de ser um elemento estratégico e essencial. “O Brasil importa 80% dos seus fertilizantes. Recuperar todos os nutrientes que são perdidos em dejetos é estratégico para o país. Existe ausência de estudos agronômicos no Brasil sobre estruvita e a resposta aos nossos solos. Ela pode ser aplicada a outros fertilizantes solúveis. Sendo uma fonte alternativa, podemos dizer que ela é mais eficiente para fornecer fósforo. É enxergar o potencial agronômico”, frisou.

Importância do reúso da água

“Existe água no digestato e devemos pensar além disso”. Com essa frase o professor da UTFPR, Marcelo Bortoli, iniciou sua palestra sobre “Reúso da água”. O painelista lembrou que estamos em um país agraciado com recursos hídricos, mas a possibilidade está deslocada nas maiores concentrações populacionais, trazendo grande disponibilidade e grande escassez ao mesmo tempo. O que leva a outro impasse: demanda versus disponibilidade.

Bortoli apresentou dados sobre reúso de água pelo mundo, para demonstrar como o Brasil ainda está muito atrasado nessa pauta. “O uso estará muito relacionado à demanda. Aqui, apenas 1,5% do esgoto é tratado para reúso de água. Precisa haver evolução das regulamentações do reúso, pensando no propósito, onde a água será utilizada e o nível de tratamento necessário para tal”, reforçou.

Em 2017, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu parâmetros mínimos para o reúso de água em cada modalidade. “Reúso adequado ao propósito, como ferramenta para diminuição dos impactos ambientais. Isso trará menor pressão sobre os corpos hídricos, aumentando a capacidade de recuperação dos mesmos”, ponderou o professor.

Com isso, falou-se de um estudo de desnitrificação do digestato por meio do reúso de água, em um cenário proposto na suinocultura com digestão anaeróbia, na qual foi feita a simulação na Embrapa, objetivando o reúso de água tratada no sistema de produção da suinocultura. “Pensando no reúso da água e gases de efeito estufa (GEE), vemos como o reúso pode favorecer a descarbonização, onde os ganhos ambientais não são restritos ao ciclo da água. E é uma possibilidade também de agregar valor. Devemos pensar o reúso como meio e não como fim, pois a água será devolvida ao meio ambiente”, concluiu.

Eficiência, valor agregado e segurança ambiental

O terceiro palestrante do painel, Acácio Martins, representou a Yara Brasil Fertilizantes, uma empresa global, sediada na Noruega, que tem quase um terço dos seus negócios concentrados no mercado brasileiro. Com o tema “Oportunidades na Amônia Verde”, falou sobre o uso do biometano para produção de fertilizantes nitrogenados de ultra baixa pegada de carbono. 

“Nosso objetivo global é proporcionar um futuro alimentar positivo para a natureza. Neutralidade climática com o uso do biometano, agricultura regenerativa com baixo carbono e prosperidade, porque tem que ter viabilidade econômica”, ressaltou. 

Martins enfatizou que há muita pressão para a redução de emissão de GEE na Europa, e a Yara, por ser sediada em território europeu, está atrás disso. A empresa reduziu 45% de emissões de GEE de 2005 a 2019 e busca ser neutra em carbono até 2050. “E o uso do biometano – especialmente aqui no Brasil – vai contribuir para atingirmos essa meta”, afirmou.

Com exemplos globais, o palestrante demonstrou o objetivo da empresa em produzir fertilizantes de alta eficiência, com alto valor agregado e também sem risco ambiental. “A amônia verde, através do biometano, traz a amônia renovável como alternativa para descarbonização das cadeiras industriais no Brasil a curto prazo. Descarbonizar a produção de alimentos com processos cada vez mais eficientes e renováveis trará um impacto direto”, finalizou.

Ao final do painel, foram apresentados cases das empresas Fluence, por Michele Ceccaroni, e Retzem Projetos de Investimento, Ricardo Retzem.

O 6º Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano é realizado por instituições dos três estados do Sul do país: Embrapa Suínos e Aves (SC), Centro Internacional de Energias Renováveis – CIBiogás (PR) e Universidade de Caxias do Sul (UCS), e organizado pela Sociedade Brasileira de Especialistas em Resíduos das Produções Agropecuária e Agroindustrial (Sbera).

Patrocínio MASTER: Grupo Cetric, Itaipu Binacional e SCGÁS

Patrocínio OURO: Compagas, Ecogen, Galileo Technologies, MDC, (re)energisa, Retzem, Sanepar e UBE.

Fotos: UQ Eventos