O oitavo painel do 6º Fórum Sul Brasileiro Biogás e Biometano teve como tema “Conexão Biogás e Hidrogênio” e foi moderado pelo professor Helton José Alves, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Os palestrantes foram Alessandra Freddo, engenheira ambiental e representante da Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás); Maíra Mallmann, pesquisadora de pós-doutorado no Laboratório de Energia e Meio Ambiente da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); e Eueler Lage, doutor em Química e gerente de projetos da Casa Civil da Presidência da República.
Como aproveitar o biogás para produzir o hidrogênio foi o grande foco do painel. O moderador, professor Helton José Alves, afirmou que há mais de 10 anos a UFPR trabalha em projetos para produzir hidrogênio renovável focados na biomassa/biogás como matéria-prima. “A novidade é produzir hidrogênio de forma renovável e com custo acessível. Dados mostram que nos próximos 10, 15 anos será possível duplicar a produção de hidrogênio no mundo. E será que tem mercado para o hidrogênio? É só observar o mercado atual e futuro, que mostram que há potencial. Claro, são necessárias regulamentação, certificação e tecnologias, e formação de recursos humanos”, afirmou.
Alessandra Freddo, da CIBiogás, palestrou sobre “Hidrogênio e hidrocarbonetos a partir do biogás”. Ela disse que a grande parcela do hidrogênio produzido atualmente é destinada à indústria do petróleo, e que haverá grande demanda de hidrogênio renovável para transporte pesado, aviação e setor marítimo.
“Produzir hidrogênio é mais uma possibilidade a partir de biogás, e principalmente no Sul do Brasil, que tem potencial para o biogás muito grande. Podemos usar biogás para gerar energia elétrica, para gerar gás de síntese e, a partir deste, gerar hidrogênio, também para produzir hidrocarbonetos, metanol e ainda o biometano – que pode gerar hidrogênio e grafeno”, destacou Alessandra, que ainda explanou sobre a possibilidade advinda da biodigestão do hidrogênio para produzir biohitano, que tem ainda mais vantagens energéticas e sustentáveis.
A palestrante também contou que durante os estudos desta produção avaliaram-se várias rotas, como eletrólise, reforma a seco, reforma a vapor – mais consolidada no mercado, pois existe para gás natural –, também a reforma autotérmica, e a plasmólise e a dark fermentation, que precisam ganhar escala/mercado para se tornarem viáveis.
Por fim, Alessandra destacou dois projetos recentes: um deles sobre a utilização de biogás na produção de combustíveis de aviação; e o segundo iniciando atualmente para tratamento de esgoto doméstico para purificar e aumentar a qualidade dos gases emitidos.
Desafios das rotas do hidrogênio verde
A pesquisadora Maíra Mallmann, da UFSC, que participou de forma on-line, abordou especialmente os desafios para realizar algumas rotas para produção do hidrogênio renovável. “A demanda em 2022 foi para refino de petróleo e para a indústria. Essa demanda irá aumentar, não só porque estamos produzindo mais hidrogênio, mas porque outras aplicações estão surgindo, como transporte, energia, indústria pesada (aço, cimento)”, afirmou.
Em relação aos métodos de produção do hidrogênio, Maíra destacou que o advindo da biomassa também pode ser considerado hidrogênio verde. Ainda mostrou possibilidades de caminho do biogás, com otimização da produção de hidrogênio, explicando a importância de se fazer o pré-tratamento do biogás, a reforma catalítica e o pós-tratamento do gás de saída, para então obter o hidrogênio verde.
Por último, destacou iniciativas do Laboratório de Energia e Meio Ambiente da UFSC no desenvolvimento, por exemplo, de um catalisador em impressão 3D para testes em laboratório. E ainda mostrou o esquema de uma empresa alemã na purificação do biogás para remoção de impurezas e umidade, reforma de biogás e purificação do hidrogênio.
Iniciativas para aceleração do crescimento
“Biometano e hidrogênio de baixo carbono no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)” foi o tema da palestra de Eueler Martins Lage, da Casa Civil da Presidência. O PAC, segundo ele, está focado em grandes projetos e medidas para a aceleração do crescimento econômico do país, acelerar inclusão social, gerar empregos e renda e reduzir desigualdades sociais, sendo liderado pelo governo e com grandes parcerias do meio privado.
O doutor em Química apresentou que as ações institucionais para biometano, biogás e hidrogênio de baixo carbono são foco de projetos de desenvolvimento da cadeia produtiva nacional do hidrogênio de baixo carbono, de harmonização regulatória do gás entre normas estaduais e nacionais, dos corredores verdes, dentre outros.
Segundo Lage, dos nove eixos do PAC, a cadeia de biometano/biogás/hidrogênio encontra-se no eixo de transição e segurança energética, com investimento de R$ 565 bilhões, e no qual estão previstos mais R$ 200 bilhões. “Desta parte, os combustíveis de baixo carbono têm R$ 26 bilhões, são 76 projetos apresentados ao Ministério de Minas e Energia, que os leva à Casa Civil. “Um deles é uma planta de biometano em Piracicaba, com a produção de 26 milhões de m³ de gás natural por ano, suficiente para abastecer 200 mil clientes”, destacou o palestrante.
Dois grandes projetos estão sendo introduzidos no PAC, um utilizando biometano e outro com eletrólise de água – para produção de fertilizantes. “Boa parte no Brasil é a produção a partir da eletrólise da água, mas nem sempre o produtor consegue outorga de água à disposição para produzir. Então, é necessário pensar mais na possibilidade de usar biometano para produção de hidrogênio verde e ainda diminuir a emissão de gás carbônico”, afirmou.
Ao final do painel, houve a exposição de dois cases: Prodeval Tecnologia de Gás Renovável, com apresentação de Carlos Mancino; e (re)energisa, com apresentação de Frederico Botelho.
O 6º Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano é realizado por instituições dos três estados do Sul do país: Embrapa Suínos e Aves (SC), Centro Internacional de Energias Renováveis – CIBiogás (PR) e Universidade de Caxias do Sul (UCS), e organizado pela Sociedade Brasileira de Especialistas em Resíduos das Produções Agropecuária e Agroindustrial (Sbera).
Patrocínio MASTER: Grupo Cetric, Itaipu Binacional e SCGÁS
Patrocínio OURO: Compagas, Ecogen, Galileo Technologies, MDC, (re)energisa, Retzem, Sanepar e UBE.
Fotos: UQ Eventos