Amparados em dados, pesquisas e legislação que foram apresentados ao público, palestrantes de diferentes elos da cadeia do biogás expuseram o potencial do setor, na tarde do primeiro dia (12.04) do 4º Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano
Abrindo o Painel 3, “Descarbonização por meio do biogás: oportunidades e desafios para viabilizar projetos”, a advogada e economista com PhD em Direito da Energia e Sustentabilidade, Maria João Rolim, sócia da área de energia da Rolim, Viotti, Goulart, Cardoso Advogados, explicou o que mudou a partir da COP26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança no Clima), em 2021, quando países alinharam metas de redução da emissão de gases de efeito estufa. “São metas que trazem muitas oportunidades”, disse a advogada, que participou do painel de forma on-line. Ela acrescentou que, além disso, a partir de então o Brasil estabeleceu uma base legal que dará mais segurança ao desenvolvimento de projetos de biometano e ao mercado de carbono, ainda em regulamentação.
O diretor executivo e fundador do Instituto Totum – organismo de certificação responsável pelo Programa Brasileiro de Certificação de Energia Renovável – Fernando Giachini Lopes, falou sobre as certificações I-REC, GAS-REC e outras relacionadas com o potencial do biogás, e de que forma podem se tornar ativos ambientais. “Cada ativo ambiental tem um fator de emissão de carbono que depende da tecnologia utilizada”, explicou. Ressaltou que não faltam oportunidades para o Brasil ser um grande exportador de descarbonização.
MAPEAMENTO
“O potencial de descarbonização pelo biogás no Brasil: Avaliação do Ciclo de Vida Ambiental de plantas do biogás” foi o tema da consultora em biogás do Instituto 17 – organização que fez parte do projeto executor do Programa de Energia para o Brasil (BEP) –, Leidiane Ferronato Mariani. Ela apresentou dados, como um mapeamento do biogás no Brasil. O estudo, que envolveu mais de 60 especialistas, auxilia em programas e projetos na área. “Essa é uma grande oportunidade para o setor. Saímos com muitas respostas, mas também ficam perguntas, é uma área nova, creio que ainda há mais conhecimento a ser pesquisado e compartilhado”, resumiu.
Ainda no Painel 3, o pesquisador e chefe-adjunto aa Embrapa Suínos e Aves, Rodrigo Nicoloso, falou sobre as oportunidades para o biogás na descarbonização da cadeia da carne. Ao citar que 24% da emissão de gases estufa vêm da agropecuária, no mundo todo, disse que isso pode ser mitigado e gerar oportunidades. E que essa mitigação está em diferentes setores de uma propriedade. “Quando olhamos para a questão do biofertilizante, vemos que existe uma cadeia de negócios ali esperando para acontecer”, comentou.
REGULAÇÃO DO MERCADO NO BRASIL
“Avanços tecnológicos e regulatórios para produção de biometano no Brasil” foram o tema do Painel 4 da primeira tarde do Fórum. A engenheira química especialista em desenvolvimento de negócios na UBE, empresa japonesa que produz uma tecnologia de sistema de membranas para upgrade do biogás em biometano, Paula Perfeito, foi a primeira a falar. Ela explicou de que forma é feita a separação de CO2 metano. “Estamos começando um novo mercado no Brasil, e para isso precisamos nos inspirar nos mercados mais maduros dessa energia, como os da Europa e dos EUA”, destacou.
“Produção de biometano: modelos de negócios para o Brasil” foi a apresentação do engenheiro mecânico Jorge Vinicius Neto, fundador e diretor-técnico da Nogogás, startup do Parque Científico-Tecnológico da Unicamp que é focada em desenvolvimento de projetos ao setor. Ele lembrou que há diferentes tipos de geração de biogás e de formas de purificação e de uso do biogás, para atender a vários perfis de usuários. “O biogás pode servir como um substituto para outras energias que se mostram mais caras a cada nova crise”, afirmou, citando como exemplo as crises hídricas.
REGULAMENTAÇÃO ESTADUAL
Na sequência, a diretora de Regulação Técnica e Fiscalização dos Serviços de Distribuição de Gás Canalizado/Arsesp, a engenheira Paula Campos Amaral, falou sobre “Regulação estadual de biometano como ferramenta de desenvolvimento do setor”. Ela contou como São Paulo regulamentou o setor do biogás e o funcionamento desse mercado. De acordo com a palestrante, a agenda regulatória no estado de SP tem como foco importante o biogás. “A gente tem a agenda positiva com muitos segmentos da área”, disse. Na palestra, citou o Cidades Inteligentes, projeto em que três cidades são abastecidas com biometano.
Para encerrar o painel, a superintendente-adjunta de Biocombustíveis e Qualidade de Produtos da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Danielle Conde, teve participação on-line e destacou o papel desse órgão regulador. Ela apresentou uma linha do tempo da legislação federal relacionada ao biometano desde 2015 até este ano, quando ocorre uma revisão de resoluções. “A comercialização vem aumentando”, falou, referindo-se à expectativa de funcionamento de novas plantas. “Apesar dos avanços, do crescimento de volume, a gente percebe novos desafios para os próximos anos”, alertou, referindo-se, entre outros, à deficiência de laboratórios, no país, especializados em biometano.
Assista o Painel 4: Avanços tecnológicos e regulatórios para produção de biometano no Brasil
O 4º Fórum foi realizado pelo Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), pela Embrapa Suínos e Aves e Universidade de Caxias do Sul (UCS), e organizado pela Sociedade Brasileira dos Especialistas em Resíduos das Produções Agropecuária e Agroindustrial (Sbera). Ocorreu de 12 a 14 de abril, na Universidade de Caxias do Sul, em Caxias do Sul (RS).
Fotos: Ariane Tomazzoni Fotografia