O décimo e último painel apresentado no 6º Fórum Sul Brasileiro Biogás e Biometano teve como tema “Biogás bem feito”. Moderado pelo representante da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Gustavo Ramos, o painel contou com os palestrantes Cristiane Augusto Chelles Iglesias, doutora em Tecnologia e Processos Químicos e representante do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), e Odorico Konrad, doutor em Engenharia Ambiental e Sanitária, coordenador do Centro de Pesquisas em Energias e Tecnologias Sustentáveis (CPETS) do Parque Científico e Tecnológico do Vale do Taquari (Tecnovates), da Universidade do Vale do Taquari (Univates).
Além dos palestrantes, estiveram presentes os debatedores Felipe Marques, diretor de Desenvolvimento Tecnológico no Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás); Ricardo Steinmetz, doutor em Engenharia Química e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); e Suelen Paesi, doutora em Ciências Biológicas e professora titular da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Gargalos, potencialidades e oportunidades foram debatidos neste último painel, apontando como cada esfera da cadeia produtiva pode contribuir ainda mais para o desenvolvimento deste mercado. “No último painel, representantes das instituições realizadoras do Fórum estão presentes. Vamos pegar todos os aspectos, desde obtenção de dados, processos relacionados com a produção até o produto final. Normalização, certificação e passando por toda a cadeia de valor do biogás e fazer um apanhado do que foi discutido nesses dois dias de Fórum”, salientou o mediador, Gustavo Ramos.
Qualidade e regulação
Cristiane Iglesias iniciou sua apresentação sobre “Relação entre qualidade e a regulação normativa do gás: Insights do estudo comparativo organizado pelo Inmetro para biometano”, falando sobre técnicas analíticas utilizadas pelo Instituto. Ela palestrou de forma on-line.
Sendo uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o Inmetro atua para garantir a infraestrutura da qualidade para produtos e serviços, com avaliação da conformidade, seja voluntária ou compulsória. “A missão é ser um órgão que provê o padrão certo das medições no Brasil para aumentar a confiabilidade em produtos e serviços”, afirmou Cristiane, ressaltando os cinco principais pilares que compõem a infraestrutura de qualidade: metrologia, normalização, acreditação, avaliação da conformidade e supervisão de mercado.
Para a palestrante, é importante que haja uma rastreabilidade aos padrões de referência. “O Inmetro foi responsável por coordenar o estudo colaborativo de comparações técnicas analíticas usadas na determinação da composição do biometano. Desta forma, buscamos a validação do método, a garantia da rastreabilidade metrológica e comparação de técnicas. Isso ajuda para iniciar a discussão de alternativas para a produção mais segura”, pontuou.
Evolução e pesquisa
De acordo com o professor da Univates Odorico Konrad, o biogás brasileiro tem crescido de forma exponencial, especialmente nos últimos oito anos. Em sua palestra “Boas práticas na formulação de projetos e operação de plantas”, iniciou com a pergunta “o que é biogás?”, cuja resposta é tão simples quanto imensurável: “vida”. “Quando falamos em outras energias renováveis, como fotovoltaica e hidráulica, aqui temos vida. A nossa fonte de matéria-prima é viva. Então é preciso entender e avaliar o substrato, e o setor produtivo não tem tempo para fazer isso, a dinâmica é mais forte. E a nossa responsabilidade, como academia, é essa”, afirmou.
Para Konrad, é necessário entender os substratos na escala de micro para macro para que as pesquisas possam evoluir. “Não pensem que a vida na universidade são só artigos. Temos também que ‘meter a mão’ nos resíduos e entendê-los. Temos que entender os substratos para poder indicar boas práticas. No processo de produção do biogás, independente da situação que esteja, é preciso entender como tudo funciona”, exemplificou.
Esta opinião vem ao encontro com a da professora da UCS, Suelen Paesi, que afirmou ver barreira de linguagem entre o setor produtivo e o acadêmico. “Há uma dificuldade em estabelecer uma conexão com o empresário, porque ele tem uma expectativa e acha a academia muito lenta, enquanto a academia pensa que o empresário não entende o que ela faz”, explanou.
Segundo Paesi, é necessário compreender o tempo de cada etapa e entender o lado de cada moeda. “Nós não estamos repetindo conhecimento, estamos produzindo conhecimento. Então o tempo é diferente. É desenvolver um conhecimento inovador, que ainda não existe. Mas precisamos entender na academia que o setor produtivo precisa de uma resposta imediata. E ainda não temos tudo”, assegurou a professora, sugerindo que a solução para este dilema pode estar em alinhar as linguagens e fazer entregas menores em projetos grandes, satisfazendo ambos os lados.
Desenvolvimento tecnológico e mercadológico
Felipe Marques, representante da CIBiogás, informou que a instituição, mesmo sem fins lucrativos, é orientada pelo negócio. Ele contou que, há dois anos, foi criado o Biogás Clube, para facilitar o networking de empresas que estão buscando negócios dentro do biogás.
“Além do desafio técnico, existe um desafio de mercado que precisa de um esforço específico. Porque se você pega uma planta de biogás que só produz energia elétrica, ela está fazendo 30% do que poderia realizar. É muito importante diversificar e explicar para o mercado as diversas oportunidades que você tem de valorização da sua planta de biogás”, disse.
Entretanto, conforme Marques, somente o investimento em tecnologia não resolve o problema na planta. “É preciso entender com o que se está lidando e respeitar o processo. O importante é trazer velocidade e informações ao mercado. Um trabalho concomitante precisa ser feito, pois o mercado precisa que alguém tome riscos por ele”, concluiu.
O pesquisador da Embrapa, Ricardo Steinmetz, destacou a necessidade de ter métricas e metas como forma de medir a evolução. “Precisamos saber o quanto crescemos, o quanto estagnamos e para onde estamos indo. O biogás bem feito é quando conseguimos chegar ao que colocamos como meta”, enfatizou.
Durante sua fala no debate, Steinmetz concordou que é preciso um olhar mais apurado para a pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para a produção de biogás. “Olhando para o produto biometano, temos trabalhado muito forte na parte de processos e estudo colaborativo na área de substratos. Não adianta olhar para todo o projeto e negligenciar o substrato. Que as empresas possam nos procurar para ter auxílio no desenvolvimento tecnológico, essa é a nossa missão, e espero que isso se perpetue e possamos evoluir juntos”, finalizou.
O 6º Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano é realizado por instituições dos três estados do Sul do país: Embrapa Suínos e Aves (SC), Centro Internacional de Energias Renováveis – CIBiogás (PR) e Universidade de Caxias do Sul (UCS), e organizado pela Sociedade Brasileira de Especialistas em Resíduos das Produções Agropecuária e Agroindustrial (Sbera).
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