O quarto painel do 6º Fórum Sul Brasileiro Biogás e Biometano teve como foco a “Valorização de Atributos do Biogás”. A moderadora foi Renata Piacentini Rodriguez, representante das Mulheres do Biogás, rede que nasceu em 2020 e atualmente conta com mais de 400 participantes – a maior rede de mulheres do biogás do mundo, focada em empoderamento feminino e igualdade de gênero na área.
O painel contou com a palestrante Deisi Táparro, doutora em Engenharia Agrícola e representante do Instituto 17, que abordou a “Integração do Biogás às estratégias nacionais de descarbonização na agricultura”. Os debatedores foram Diego Gagnotto, representante da Ultragaz; Sidney Almeida Filgueira de Medeiros, auditor-fiscal do Ministério da Pecuária e Agricultura (MAPA); e Rosana Santos, diretora-executiva do Instituto E+ Energia.
Redução de emissões
Deisi Táparro iniciou falando sobre as emissões de gases do efeito estufa (GEE) no setor agro, onde o manejo de animais é um importante subsetor, e a contribuição de cada categoria nas emissões de metano pelo manejo de dejetos de animais no Brasil. “Há uma contribuição a curto prazo do biogás para a descarbonização brasileira. Muda-se a rota para o tratamento em função do biogás e como isso pode auxiliar no manejo de resíduos, que serão utilizados em energia elétrica ou produção de biometano”, afirmou.
Nos cenários estudados e seus impactos, Deisi utilizou o exemplo da cadeia de suínos, que poderia ter 73% a 121% de emissões reduzidas. O projeto “Integrando a mitigação de poluentes climáticos de vida curta nas estratégias nacionais da agricultura” busca desenvolver ferramentas de monitoramento, dados e capacidade institucional para reduzir as emissões de poluentes climáticos de vida curta por meio do Manejo de Resíduos de Produção Animal (MRPA). “Este é um braço estratégico para impulsionar as ações do MAPA no Plano ABC+, visando avançar no MRPA, posicionando o biogás como vetor da redução de emissões e poluição climática. No fim, quem impacta o produtor rural é a rede de assistência técnica. O projeto prevê uma série de capacitações para disseminadores do conhecimento, para que, assim, esse conhecimento possa ser replicado”, destacou Deisi.
Tecnologias atrativas
O auditor-fiscal do Ministério da Pecuária e Agricultura (MAPA), Sidney Almeida Filgueira de Medeiros, tratou especialmente do plano ABC+, lançado em 2010 como parte do compromisso brasileiro em reduzir as emissões de carbono. Nele, o governo prevê práticas a serem adotadas pelo produtor rural, como redução de pastagem degradada e plantio direto.
“Tivemos que achar um rol de tecnologias atrativas para o produtor rural, por isso todas as tecnologias que estão no plano trazem melhoria de renda, adaptação às mudanças do mercado e, claro, também a redução do efeito estufa. Queremos mostrar que o passivo ambiental é um ativo econômico. Então, temos um aparato de políticas e assistência técnica para o produtor ter biodigestores na sua propriedade”, destacou Medeiros.
Ao final da primeira década, segundo Medeiros, a área com adoção de todas as práticas foi muito maior do que as propostas pelo plano. “É como se nesse período o Brasil tivesse anulado todas as emissões da Noruega. Concluímos que 334 biodigestores, entre 2010 e 2019, foram instalados dentro da porteira. A meta era tratar 4,4 milhões de metros cúbicos e tratamos 38 milhões de metros cúbicos. Em relação a linha de crédito, o plano já financiou 108 projetos e R$ 133 milhões”, afirmou o auditor-fiscal, concluindo que as metas estão mais ambiciosas atualmente, com tratamento de dejetos de 208 milhões de metros cúbicos.
Combinar soluções
Rosana Santos, diretora-executiva do Instituto E+ Energia, por sua vez, afirmou que primeiro o mundo achava que eletrificando todos os usos finais e esverdeando a matriz, estava tudo resolvido, mas não é tão simples. “O hidrogênio surgiu no mundo todo, e em alguns países já se fala que o hidrogênio também não vai resolver. É uma combinação de soluções e cada geografia vai trazer para a mesa os seus melhores pratos. No nosso caso, estamos num país vasto, com diversidade de recursos, de portos, de estradas, de energia elétrica, de inovação, de pesquisa”, destacou.
Rosana ainda ressaltou que, para além da eletricidade e para além do hidrogênio, vai faltar solução para muitos outros pontos. “E com o biogás e o biometano você aproveita um resíduo. A partir do biometano, se bem gerenciado, aproveitamos resíduos urbanos e rurais. É o momento de o Brasil se mexer, temos rotas alternativas à energia elétrica e ao hidrogênio”, finalizou.
Oportunidades e modelo de negócios
Diego Gagnotto, representante da Ultragaz, lembrou que a empresa nasceu da primeira transição energética no país, há quase 90 anos, quando se introduziu gás no lugar de carvão e lenha. Atualmente, são em torno de 60 mil clientes empresariais, 6 mil indústrias e 11 milhões de domicílios.
“O biometano é uma avenida de oportunidades. Naturalmente surgem questões, por ser uma forma de energia nova. Vemos um caminho grande na substituição ao diesel e nas indústrias, mas existe o elemento da segurança energética que é muito importante. Nenhuma indústria fará mudanças sem esse elemento. O objetivo é operar com segurança e entender a dinâmica do cliente para prosperar o negócio. Apoiamos os planos de descarbonização, mas precisamos de um modelo operacional bem organizado”, concluiu o representante da Ultragaz.
O 6º Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano é realizado por instituições dos três estados do Sul do país: Embrapa Suínos e Aves (SC), Centro Internacional de Energias Renováveis – CIBiogás (PR) e Universidade de Caxias do Sul (UCS), e organizado pela Sociedade Brasileira de Especialistas em Resíduos das Produções Agropecuária e Agroindustrial (Sbera).
Patrocínio MASTER: Grupo Cetric, Itaipu Binacional e SCGÁS
Patrocínio OURO: Compagas, Ecogen, Galileo Technologies, MDC, (re)energisa, Retzem, Sanepar e UBE.