O sétimo painel ocorreu pela tarde do dia 13 de abril. A moderação foi de Airton Kunz, da Embrapa, com o tema “Biogás produzido a partir de resíduos agroindustriais e orgânicos”.
Ansberto Passo Neto, da TecCalor, abriu o sétimo painel com o tema “Avanços no uso térmico de biogás em processos produtivos: potenciais em indústrias”. Ressaltou a questão da aplicação do gás como energia térmica ao apresentar os cases da TecCalor – Tecnologia em Calor. O palestrante destacou o case de Sebo Mariense, em Vila Maria (RS) e as atividades do Grupo Fuga Couros, da qual a TecCalor beneficiou com a aplicação de biogás em cinco unidades do grupo.
Alguns desses benefícios foram com energia elétrica e manutenções, o término do transporte e destino final do lodo, produção de biogás, queima na caldeira, redução no consumo de lenha, utilização do digestato para o cultivo de eucaliptos e produção de lenha para as caldeiras, entre outros.
Também comentou sobre o sistema de controle de queima de biogás em caldeira. “A capacidade térmica do queimador de Vila Maria é de 2 milhões de Kcal/h, para a queima de 350 m³/h de biogás. Essa queima é feita em caldeira com o sistema muito robusto. Os resultados alcançados foram a redução de 35% no consumo de lenha, maior vida útil dos refratários na fornalha, menor geração de cinzas e melhora nos parâmetros de controle de emissões atmosféricas.
A palestra da Archea Biogás foi feita pelo seu fundador, Oliver Nacke, e traduzida simultaneamente do alemão por Erik Rezler, o sócio-administrador da empresa. O tema foi o “Biogás a partir dos resíduos orgânicos: plantas da Archea na América Latina.”
A Archea construiu 150 plantas de biogás. Em 2013 foi construída a primeira planta de biogás da empresa no Brasil, na cidade de Pomerode (SC), com 90% de componentes locais, e também serviu como treinamento para futuros parceiros e colaboradores. Em 2014, a Biogás Pomerode começou sua produção energética, usando como substratos os dejetos de suínos e lodos de frigorífico e potência de geração de 70 Kw/h.
Oliver também citou projetos em Rio Verde (GO) Blumenau (SC), São Bento do Sul (SC), Brusque (SC), Jacarezinho (PR), Cafelândia (PR), San Jose de La Dormida e Villa de María Del Rio Seco, essas duas últimas na Argentina.
“Biogás e fertilizante na cadeia da avicultura: case 3G Família de Paula”, foi o tema da última palestra do painel 7, apresentada por Airon Aires. O desenvolvimento do negócio para a 3G Família de Paula começou em 2007 como uma pesquisa. Dez anos depois, foi inaugurada a planta de biogás no local, utilizando dejetos de produção avícola.
Airon também evidenciou como funciona a produção da planta, que tem, um biodigestor de 1560 m³ com alimentação de 10 toneladas de cama de frango por dia. Com geração de biogás de 3.500 m³ por dia e potencial de geração de energia de 6.300 kW/h em apenas um dia. “A gente tem a produção avícola, os aviários com a cama de frango, que são os dejetos misturados com a serragem. Esse material passa por um pré-processo, dentro dele tem uma mistura de digestão e água, em que é feita a diluição, e é possível fazer codigestão dentro desse tanque. Feita essa mistura, é realizada uma separação da fração sólida e líquida. O sólido vai para o processo de compostagem e o líquido vai para biodigestor. Feita essa separação, a gente concentra os nutrientes, e é aumentada também a produção de biogás.”
Foram apresentados dados gerais feitos por pesquisa de 2021. Há 9,7 milhões de ton/ano de cama de frango no Brasil, e 4,1 milhão de ton/ano de dejetos produzidos por aves. Nessa relação seriam 13,8 milhões de ton/ano de resíduos. Em potencial de biogás, são 3,7 bilhões de m³/ano (2 bilhões apenas no sul no Brasil).
Assista o Painel 7 no canal do Youtube do Fórum
Brasil produz 2,3 bilhões de Nm³ de biogás por ano
O último painel da quarta-feira “Caminhos para avançar no setor do biogás” foi moderado por Felipe Marques, do CIBiogás. A primeira palestra do último painel foi de Helton Alves, da Universidade Federal do Paraná – UFPR, com o tema “Produção de hidrogênio do biogás”. Alves mencionou sobre a pesquisa Labmater, desenvolvida pela UFPR, que trabalha com essa questão da biomassa para a produção de hidrogênio (H2).
A ideia é produzir o que é chamado de hidrogênio verde, que seria um hidrogênio com a menor emissão possível, próxima a zero de CO2. As rotas de produção para hidrogênio verde são variadas, mas Helton decidiu focar em duas específicas, que são o processo de fermentação e eletrólise.
Sobre o potencial do biogás no Brasil e pelo mundo, Helton ressaltou: “temos muito potencial a ser explorado na área do biogás. Vale destacar que em alguns levantamentos que fizemos recentemente, vemos que se utilizássemos esse biogás utilizado para reforma catalítica, produção de gás de síntese e a separação desse hidrogênio, teríamos cerca de 160 bilhões de metros cúbicos de hidrogênio por ano sendo produzidos. Seria algo em torno de 20% da produção mundial de hidrogênio. Isso usando apenas biogás.”
“Potencial do setor e oportunidades de financiamento: atração de investidores para projetos de pequena a grande escala” foi o tema apresentado por Tamar Roitman, da Abiogás. Ela salientou sobre o papel da Abiogás no setor. A entidade tem como missão ampliar o uso do biogás na matriz energética brasileira e desenvolver o mercado de biogás, promovendo a valorização energética sustentável dos resíduos orgânicos. “O objetivo da Abiogás é representar esse setor, e buscar políticas públicas, mostrar realmente como a cadeia está se estruturando e às vezes, temos a dificuldade de chegar no pequeno produtor, em quem realmente está produzindo biomassa em todas as regiões do Brasil.”
Tamar comentou sobre o potencial brasileiro que ainda precisa ser explorado: “O Brasil é o país com maior potencial no mundo para produzir biogás. Temos uma quantidade de biomassa que nenhum outro país tem, e com uma série de benefícios que ainda estamos aproveitando pouco.”
Por último, Tamar apresentou as propostas da Abiogás para colocar essa energia renovável na matriz. São elas: biogás em leilões dedicados e de gás natural; valorização da previsibilidade de preço; reconhecimento dos atributos sistêmicos e ambientais; isonomia tributária ICMS estadual; políticas de substituição o diesel no transporte pesado; aprimoramentos no processo de licenciamento ambiental e incentivos para viabilizar novos produtos (biofertilizantes, hidrogênio, amônia e metanol).
O moderador Felipe Marques encerrou o evento com a apresentação do Panorama do Biogás no Brasil. Com base em dados pesquisados pelo CIBiogás de 2021 mostrou o crescimento de plantas no país: são 811 plantas de biogás atualmente no Brasil, sendo 755 em operação. São 2,3 bilhões de Nm³ de biogás produzido por ano, mostrando um incremento de 10% em relação a 2020.
Os estados que mais cresceram no número de plantas foram Santa Catarina e Goiás. Paraná e Santa Catarina estão entre os estados com mais plantas no país, perdendo apenas para Minas Gerais. O potencial que o Brasil poderia produzir de biogás são 84,6 bilhões de Nm³, em relação aos 2,3 que produzidos atualmente.
“Em um panorama geral, a maioria das plantas de biogás estão em operação. E as plantas em implantação são de médio a grande porte. Isso demonstra um amadurecimento no setor do Biogás, a tendência é termos projetos em escalas ainda maiores”, concluiu Felipe.
Mensagem da World Biogas Association
Antes do início das palestras desse painel, foi exibido um vídeo gravado pela diretora executiva World Biogas Association, Charlotte Morton. “O biogás é uma solução fundamental para o gerenciamento de resíduos. Os seres humanos geram, direta e indiretamente mais de 108 bilhões de toneladas de resíduos orgânicos por ano em todo o mundo, os quais liberam gases nocivos, como o metano e outros gases de efeito estufa prejudiciais diretamente na atmosfera à medida em que se decompõem. Esses resíduos orgânicos incluem restos de alimentos, esgoto sanitário e resíduos de podas de jardim, resíduos de processamento de alimentos e bebidas, e resíduos de agricultura e pecuária. Entretanto, hoje apenas 2% desses resíduos são tratados e reciclados. Ao gerenciar todos os resíduos orgânicos como importantes recursos biológicos através de tecnologias como a digestão anaeróbica para a geração de biogás, biofertilizantes, bio-CO2, e outros bioprodutos valiosos, podemos reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa em 10% até 2030, isso se começarmos agora.”
Morton citou o Fórum como importante evento para o reconhecimento dessa fonte de energia no final do vídeo: “Países como o Brasil, com perfis agrícolas fortes podem oferecer as maiores contribuições para as metas globais de metano e net zero. Portanto, o trabalho local e regional de reunir a indústria para discutir seu potencial, desafios e oportunidades precisa ser incentivado e apoiado tanto pelas empresas quanto pelo governo.”
Assista o Painel 8 no canal do Youtube do Fórum.
Fotos: Ariane Tomazzoni Fotografia