O nono painel do 7º Fórum Sul Brasileiro Biogás Biometano, realizado em Bento Gonçalves, foi norteado pelo tema “Biogás e Resíduos Sólidos Urbanos”. A programação teve a moderação de Leidiane Mariani, da Amplum Biogás, e como painelistas Tiago Nascimento, da Clean Energy BR; Thiago Edwiges, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR); e Gustavo Machado, do governo do Estado do Rio Grande do Sul.
Leidiane abriu o bate-papo reforçando a importância de o tema do painel ser debatido dentro da programação do Fórum: trata-se de um desafio grande, especialmente dentro do quesito gestão de resíduos sólidos urbanos. “Muitas vezes, em um Brasil continental, a maior parte do resíduo é destinada ao lixão ou para um aterro sanitário. Mas precisamos buscar soluções de economia circular de separação destes resíduos orgânicos”, explicou. A diretora executiva da Amplum ressaltou que a gestão dos resíduos é um tópico que merece ganhar cada vez mais espaço dentro da realidade brasileira devido à sua complexidade.
O primeiro painelista, Tiago Nascimento, levou dados e percepções especialmente voltados ao tema aterro sanitário. “O que vou falar pode ser impactante, mas eu não gosto de aterro sanitário. Já atuo desde 2005 em aterros, e ao atuar em ambientes que você recebe um grande volume de material que poderia ser reciclado, você passa a encarar o tema de outra forma”, justifica. Nascimento lembra que, no Brasil, os aterros sanitários começaram a existir no começo da década de 1990, mais precisamente com o Aterro Sanitário Bandeirantes, em São Paulo. “Então, esse é um assunto relativamente novo para o país. Foi nos anos 1990 que equipes brasileiras viajaram para a Europa para entender o que é aterro. E, atualmente, é muito difícil vermos no Brasil um aterro encerrado”, conta. “Nós não temos um sistema de logística reversa de embalagens com metas a serem cumpridas pelos fabricantes, como na Europa. Não temos um sistema onde os cidadãos estão dispostos a pagar pela coleta seletiva, como nos EUA, e a taxa cobrada dos municípios não cobre 100% das despesas atuais. Estes estão entre os motivos de o Brasil estar tão distante dos países europeus e americanos na destinação de resíduos”, afirma.
O professor Thiago Edwiges, da UTFPR, abordou o tema “Produção de biogás via rota seca: vantagens ou desvantagens?”. O docente ilustrou que, no Brasil, há uma média de 382 quilos de resíduos produzidos por habitante anualmente, totalizando 40 milhões de toneladas despejadas em aterros sanitários e 28 milhões de toneladas em lixões, sem critérios de separação ou tratamento. “Temos 3 mil lixões em operação no Brasil, o que está longe de ser uma alternativa indicada”, afirmou. O professor também listou alternativas sustentáveis para a gestão de resíduos sólidos urbanos, recapitulando a Lei 12.305/2010, que já prorrogou por pelo menos três vezes o prazo para que municípios de até 50 mil habitantes façam o encerramento dos lixões. “Nos parece que essa é uma alternativa que não vem funcionando, tendo em vista que os prazos são prorrogados cada vez que se aproximam de sua vigência”, detalha.
O Plano Nacional de Resíduos Sólidos, o Planares, também foi citado pelo professor, bem como algumas de suas metas, como recuperar 48% da massa total de resíduos sólidos urbanos em âmbito nacional até 2040. O Planares também prevê que 100% dos municípios terão planos de gestão de resíduos até 2040.
Representando o governo do Estado, Gustavo Machado apresentou o tópico “Biomassa e resíduos sólidos urbanos no planejamento energético do RS”. Além de explanar sobre a matriz energética do Estado e do país, onde a matriz solar passou a ocupar a segunda colocação entre as energias mais utilizadas no RS, ultrapassando a energia eólica, ele abordou dados sobre emissões do setor energético, apresentou dados que vêm sendo atualizados dentro do Atlas das Biomassas do Rio Grande do Sul e atualizou o público sobre os projetos de geração de biogás e biometano no Estado.
Além disso, Machado comentou sobre uma das consequências trazidas pelas enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul em 2024: a redução de vida útil dos aterros sanitários. “É um desafio grande que estamos enfrentando. Com as enchentes, tivemos uma quantidade imensurável de resíduos que deveriam ser adequadamente destinados, não necessariamente orgânicos, mas que precisaram ir para aterros sanitários. Isso comprometeu a eficiência dos aterros com a perda de vida útil por volta de 5 anos. Isso é muita coisa e merece muita atenção, pois estamos falando de mudanças climáticas e de algo que pode acontecer novamente. Por isso, precisamos nos preocupar com esse assunto”, refletiu.
Ao final do encontro, subiram ao palco para apresentar seus cases os convidados Luis Fernando Valente Tomasini, da Energisa, e William Bogar, da Host Bright.
O 7º Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano tem como instituições realizadoras a Universidade de Caxias do Sul (UCS), de Caxias do Sul (RS), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária — Embrapa Suínos e Aves, de Concórdia (SC), e o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), de Foz do Iguaçu (PR). A organização é da Sociedade Brasileira dos Especialistas em Resíduos das Produções Agropecuária e Agroindústria (SBERA).
Patrocínio Master: Conveco; Grupo Energisa; Itaipu Binacional; Sulgás
Patrocínio Ouro: 3DI Biogás; Adicomp Brasil; Armatec Brasil; Brasuma; Galileo Tecnologia para Gás; Scania; UBE; Vogelsang Brasil; Volvo Penta
Evento apoiado pelo CNPQ/MCTI
Fotos: César Silvestro, Divulgação