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4° FSBBB | Painéis da manhã do segundo dia evidenciam eficiência, inovação e biogás no saneamento

O painel 5 ocorreu pela manhã do segundo dia do Fórum. Foi o painel mais extenso do evento, contando com seis palestras focadas no projeto GEF Biogás Brasil. Com o tema “Eficiência e inovação em plantas de biogás: cases de sucesso do Projeto GEF Biogás Brasil”, contou com a moderação foi feita por Felipe Marques, do CIBiogás, e Rafael Menezes, do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI.

O moderador Felipe Marques introduziu o tema do painel. “O Brasil, nos últimos três anos, serviu de iniciativas internacionais para se desenvolver e apoiar o desenvolvimento da tecnologia de biogás no Brasil. Um desses projetos importantes, que teve cinco anos de duração, foi o projeto GEF Biogás Brasil. Vocês vão ver diversos dos resultados desse projeto, que ele tem conexão com a unidades de demonstração, modelagem de negócios, viabilidade de projetos, tropicalização de tecnologias, impactos setoriais, entre outros.”

A primeira palestra foi de Rafael Menezes, que apresentou os impactos do projeto GEF Biogás Brasil. “O objetivo principal do projeto é a geração de energia do biogás através do estímulo da cadeia produtiva no Brasil. É um projeto liderado pelo MCTI, implementado pela UNIDO e CIBiogás, e conta com uma série de parceiros estratégicos”, explicou Rafael.

O projeto procura abranger todos os beneficiários diretos do setor do biogás, como produtores rurais, setor público, agroindústrias, fornecedores de equipamentos de serviços e ambientes urbanos. E teve como objetivos gerar mais investimentos, eficiência e rentabilidade empresarial; capacitação técnica e ferramentas digitais inovadoras; a modernização de políticas setoriais e ambientais; gerenciamento sustentável de resíduos orgânicos; economia circular e dinamização do setor do biogás; ampliação e simplificação de investimentos em biogás; maior competitividade na agroindústria e a redução de emissão de gases de efeito estufa. Por último, Rafael apresentou a ferramenta digital PiBiogás, que facilita o acesso à informação sobre o setor do biogás.

Seguindo o painel, Emilio Beltrami, da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial – UNIDO, apresentou a Abordagem Foresight: Prospectivas de cenário tecnológico e gestão da governança na cadeia de valor do biogás. Emílio explica que na questão da abordagem territorial, há uma grande complexidade na gestão de mudança, que torna os processos de produção e economia bem complicados. “Nós estamos vendo hoje um período em que temos uma pressão fiscal no mundo bastante forte, desafios com o aumento da demanda interna, dificuldades de acesso a matérias primas, grandes crises externas de território. Isso cria uma necessidade que não resolva apenas os problemas do dia-a-dia, mas que olhe para o futuro.”

Foi com essa ideia que surgiu a Abordagem Foresight (do inglês previsão). “Para começar a antecipar as necessidades tecnológicas das empresas, do território, da cadeia produtiva. Para continuar a ser competitivo, apesar das grandes crises.”

Impactos do setor da fecularia: projetos inovadores foi o foco da palestra de Luis Felipe Colturato, da UNIDO. Foi abordado, principalmente, a questão de féculas de mandioca e como isso interessa a produção de biogás. A mandioca oferece um dos seis maiores potenciais de geração de biogás, podendo gerar 660 milhões de m³.  Luis complementou: “Atualmente produzimos apenas 90 milhões, o que seria 13% do potencial, então a gente tem a possibilidade de crescimento muito grande nessa produção.”

O tema apresentado por Ricardo Muller, da  UNIDO, foi o Programa de  tropicalização: resultados das novas parcerias internacionais. Ricardo começou fazendo uma provocação: “A adaptação tecnológica é mais normal do que você imagina e geralmente mais simples do que você pensa”. Ele fez algumas comparações com aparelhos tecnológicos que vêm do exterior que são adaptados para a cultura e necessidades brasileiras.

Com essa necessidade de adaptação de tecnologias estrangeiras, “surgiu o projeto de tropicalização da GEF, que teve como objetivo selecionar oito iniciativas no país, que viessem a resolver seis desafios tecnológicos que mapeamos no ano de 2020. Propomos a resolver esses desafios através da cooperação de uma empresa brasileira e uma empresa estrangeira”, explicou Ricardo.

Natali Nunes dos Reis da Silva, do CIBiogás e UNIDO, apresentou Unidades de Demonstração: cases de valorização de digestato e abordagem territorial no Rio Grande do Sul. “Queremos que as plantas de Biogás que fazem parte do projeto se tornem vitrines do setor” expressou Natali sobre as sete unidades apresentadas. Foram plantas de biogás com o propósito de serem referências para o setor. Que tivessem alta replicabilidade, eficiência e inovação.

As sete unidades, todas localizadas na região Sul do País (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), estão vinculadas a quatro temáticas principais, e cada temática teve ao menos uma unidade, que são: geração distribuída de energia elétrica (UD Fecularia Três Fronteiras), produção e uso de biometano (UD EnerdinBo; UD Sinergas/Tamboara), aproveitamento para abastecimento (UD 3DI/Castrolanda) e valorização do digestato (UD 3Gs Adubos Orgânicos; UD Granja Kist e Froelich; UD Luming/Granja Master).

Como última palestra do quinto painel, Nicolas Berhorst, do CIBiogás e UNIDO, apresentou sobre o BiogasInvest: ferramenta digital inovadora para planejamento executivo de projetos de biogás. “O BiogasInvest foi uma ferramenta produzida dentro do projeto GEF Biogás Brasil, feita para quem trabalha no setor. É um software na sua versão beta, e é o feedback de vocês que fará ela ficar cada vez mais avançada e mais adequada às demandas do mercado”, disse Nicolas.

Explicando a necessidade dessa ferramenta, ele complementa: “quando falamos de viabilidade econômica financeira, a matemática não é o problema, a matemática do fluxo de caixa descontada é muito simples. O grande problema que temos no setor são as premissas, são os inputs. O que você coloca nos inputs nesta planilha estão relacionados com a qualidade do seu resultado. Então, para atacar o problema, fizemos uma base de dados centralizada, e um programa de viabilidade financeira que pode ser usado por diversos perfis, desde pequenas a grandes propriedades.”

Assista o Painel 5 no canal do Youtube do Fórum.

Biogás no saneamento para a descarbonização

O sexto painel ocorreu na manhã do dia 13 de abril, e teve a moderação de Suelen Paesi, da Universidade de Caxias do Sul. A temática do painel foi o “Biogás no saneamento para a descarbonização”.

A primeira palestra foi apresentada por Marcus Vinicius Nadal Borsato e Priscila Rosseto Camiloti, ambos da Ponta Grossa Ambiental Concessionária de Serviço Público S/A, para falar sobre o caso da Usina Termoelétrica a biogás de Ponta Grossa/PR.

Marcus falou sobre o projeto e sua implantação: “essa planta teve início a partir de uma provocação do poder concedente. Uma das empresa do Grupo Philus, a Ponta Grossa Ambiental, é uma concessionária de serviço público de limpeza urbana e manejo de resíduos. Logo em seguida dessa provocação, foi feito um contrato com a CIBiogás, que fez o estudo de viabilidade técnica e econômica, que foi comprovada”, disse Marcus falando sobre a fase inicial de projeto.

Sobre a linha do tempo do projeto, Marcus complementou: “o estudo de viabilidade foi feito em 2019. Entre janeiro e junho de 2020, foi o período em que fizemos licenciamento ambiental e toda a engenharia do projeto. Em agosto, começamos a terraplenagem e a construção da usina. Na alternativa locacional, nós selecionamos um terreno que estava muito próximo de uma subestação de energia elétrica, pois o foco do poder concedente era gerar energia para os prédios públicos. A construção foi concluída em dezembro de 2020. Em janeiro de 2021, iniciamos o comissionamento, e a licença de operação sai em março, e imediatamente já inoculamos a planta. A operação começou em junho de 2021.”

Priscila continuou com a apresentação falando mais da operação. “Nossa capacidade de processamento é de 30 toneladas de RSO por dia, com estimativa de produção 4,800 m³ de biogás por dia, e isso nos levaria a produção de 7,3 MWh por dia de energia elétrica. Atualmente, recebemos de 8 a 10 toneladas por dia de resíduos sólidos orgânicos”.

A planta conta com dois biodigestores com capacidade de 1000 m³ cada. Ao lado dos biodigestores, “há um laboratório analítico onde são feitas todas as séries de sólidos, nitrogênio, DQOs, e as análises de FOS/TAC”, explicou Priscila.

Atualmente, com as oito toneladas produzidas de resíduos sólidos orgânicos, a planta consegue gerar 1.200 m³ de biogás por dia, e 1,9 Mwh por dia. Essa energia já abastece cinco unidades: a Unidade de Pronto Atendimento – UPA Santana; a Sede do Município; Secretária de Segurança Pública e Cidadania; a própria Unidade Geradora e o Pronto Socorro Municipal.

Tecnologias de biogás e saneamento foi o tema da apresentação de Rodrigo Pastl, do Instituto Fraunhofer. Rodrigo apresentou o que foi desenvolvido na Europa pela Fraunhofer em tecnologia com biogás e saneamento. Primeiro, ele fez uma apresentação do instituto: “somos a maior instituição de pesquisa aplicada do mundo, com mais de 30 mil colaboradores e 21 mil pesquisadores, com volume financeiro de 2,9 bilhões de euros em 2021, em que 2,5 foram destinados a contratos de pesquisa.”

Rodrigo também falou sobre alguns projetos, como a CO2EXIDE, que segundo ele: “o foco era desenvolver o processo eletroquímico, energeticamente eficiente, quase neutro em relação ao carbono, para produzir óxido de etileno que é base para vários produtos que utilizamos no dia a dia. Dentro deste projeto, utilizamos como matéria prima o CO2 do biogás. Então desenvolvemos um processo, em que temos reações em paralelo, que através do CO2 biogênico e a água, conseguimos gerar em paralelo reação catódica e anódica, utilizando processo eletrocatalítico. No final temos a separação e conversão química, chegando assim ao óxido de etileno.”

Guilherme Gonçalves, da GOPA, ProteGEEr, apresentou a gestão de RSU (resíduos sólidos urbanos) e a relação com o desenvolvimento do setor do biogás: eficiência e possibilidades para a economia circular. Iniciou falando sobre o kit de ferramentas da ProteGEEr, ele explica: “Desenvolvemos um kit de ferramentas, baseado na identificação de quais eram os principais desafios de gestão em municípios brasileiros. Identificamos os desafios comuns, dentro dos principais foram a questão da sustentabilidade financeira.”

Outros desafios identificados foram tratamento e valorização de RSU, mitigação de emissões de gases de efeito estufa, ganhos de escala e arranjo institucional, visão integrada do gerenciamento de resíduos e encerramento de lixões.

Foram desenvolvidas duas ferramentas para a questão de mitigação de gases, a Calculadora de emissões de gases de efeito estufa (GEE) no manejo de RSU; e Roteiro para Redução das emissões de gases de efeito estufa no manejo de RSU. Ambas disponíveis no site do Ministério do Desenvolvimento Regional – MDR e podem ser usadas por qualquer município ou consórcio brasileiro.

A palestra final do painel foi apresentada por Carlos Chernicharo, da UFMG e CR ETES, com o tema das perspectivas para universalização de acesso ao tratamento de esgoto e a relação com o aproveitamento de biogás.

Chernicharo começou apresentando o cenário atual do tratamento. “As ETES (estações de tratamento de esgoto) convencionais têm o projeto baseado na legislação ambiental do corpo hídrico, ou seja, a regra é tratar o esgoto para jogar num corpo hídrico. Se essas estações, nessa lógica, são bem projetadas e operadas, conseguimos ter os ganhos de redução de impactos, de contribuir com o controle de poluição da água. Mas na realidade, há uma ausência quase completa dessa percepção de um possível retorno financeiro com um tratamento mais sustentável, o que temos hoje é a visão do tratamento de esgoto apenas como um custo.” Ou seja, paga-se pela disposição final do lodo, o biogás é desperdiçado (queimado) e o líquido tratado é disposto em um curso de água, muitas vezes agregando um residual indesejado de poluentes/contaminantes.

Para conseguir ETES sustentáveis, essa visão de perda precisaria ser mudada, e Chernicharo aponta alguns apelos positivos: primeiro é você mudar essa lógica de uma ETE convencional, de uma economia linear, em que o esgoto é um passivo, só se enxerga um custo. E passar para esse conceito de ETES sustentável, com economia circular, esgoto visto como um recurso, o foco é a recuperação de subprodutos. Ou seja, resíduos podem ser transformados em subprodutos, o lodo pode virar um biossólido e o biogás você pode transformar em energia e abater emissões.”

Assista o painel 6 no canal do Yotube do Fórum.

Fotos: Ariane Tomazzoni Fotografia