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Painel 3: Financiamento e fomento de projetos de biogás e ativos ambientais

De um lado, o setor de biogás e biometano ávido por financiamento. Do outro, instituições de fomento e iniciativas de receitas múltiplas buscando projetos em energia renovável. O terceiro debate apresentou caminhos para unir essas pontas e melhorar os resultados dessa negociação

O tema Financiamento e Fomento de Projetos de Biogás e Ativos Ambientais inaugurou o formato de palco dividido, com dois painéis simultâneos, no 5º Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano. Em um auditório silencioso, os participantes escolheram – ou alternaram – nos fones de ouvido entre os dois painéis do início da tarde. Moderado por Leidiane Mariani, da Amplum Biogás, o painel do lado direito debateu um dos principais desafios do setor de biogás: o financiamento. A pauta incluiu linhas de crédito, mecanismos de fomento e outras formas de rentabilizar projetos de biogás e biometano.

“Temos fundos de investimento específicos disponíveis no mercado, procurando bons projetos. Tivemos hoje a informação de um fundo que está com R$ 2 bilhões para investir em projetos de biogás. Tivemos a oportunidade de oferecer um projeto de R$ 60 milhões e o investidor não se interessou: era um projeto muito pequeno e ele quer um projeto maior. De R$ 200 milhões para cima”, provocou Rodrigo Sarmento Garcia, da UNIDO | GEF Biogás Brasil, na sua fala. “E existem outros fundos interessados em projetos menores, em pulverização. Estamos discutindo isso com um dos projetos que tivemos oportunidade de apoiar”, completou.

Diante das oportunidades de investimento para projetos em biogás em diversas escalas, Garcia apresentou os obstáculos para aproximar os investidores dos interessados em recursos. Ilustrou que, na negociação, além do integrador, fornecedor da biomassa, comprador, provedor de equipamentos e investidor, sentam à mesa a insegurança sobre o know how do proponente, as expectativas do dono da biomassa, a mensuração de riscos e as incertezas: sobre a capacidade de entrega, manutenção de fornecimento de biomassa, maturidade e grau de inovação tecnológica.

Para Garcia, investir na qualidade dos projetos, na segurança da informação e em cada detalhe que faz um bom projeto é o caminho para ganhar credibilidade na mesa de negociação de investimentos onde o biogás concorre, inclusive, com energia solar, aos olhos do investidor especialmente interessado em rentabilidade e minimização de riscos.

“Estamos com um cenário de sobreoferta de projetos ESG. Um investidor sempre vai olhar para um projeto do ponto de vista de rentabilidade e sustentabilidade. Precisamos de um processo não-elementar de comunicação, de informação de quais são as vantagens que o biogás tem, quais são flexibilidades que ele oferece, qual o mercado promissor que ele tem quando comparado com outra tecnologia que já está disponível e consolidada no mercado”, contextualizou Garcia, que entregou uma lista de sugestões para elaborar boas propostas de investimento, a começar por não presumir nos projetos que informações sejam óbvias.

“Projetos bem estruturados entram no banco com uma vantagem a mais. As chances de aprovação são maiores”, reforçou Paulo Marques, do Banco Regional de Desenvolvimento (BRDE). Marques apresentou as linhas de fomento do BRDE, que atua nos três estados do Sul, mais o Mato Grosso do Sul. Segundo o analista financeiro, o Banco é o maior agente financeiro, na região Sul, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de onde partem 60% dos recursos repassados pelo BRDE; e o maior agente financeiro das linhas de inovação da Finep, sendo canalizador de mais de 50% dos recursos distribuídos no país.

A apresentação mostrou números de investimento do BRDE no setor de energia renovável: mais de R$ 400 milhões de 2017 a 2021, e quase R$ 1 bilhão nos últimos anos, para 757 projetos. E desafiou: “grande parte desse investimento foi para o setor fotovoltaico. Na área de biogás, se chegarmos a 10% desse valor vai ser muito. É um setor onde a gente precisa investir, e o Banco tem recursos para isso.” O baixo percentual foi o centro da primeira pergunta da mediadora aos debatedores. “Chegam menos projetos, têm menor valor, demoram mais, ou chegam com menor qualidade?”, questionou Leidiane. Segundo Marques, a qualidade dos projetos interfere na aprovação de recursos, mas o problema é mais amplo e inclui, em comparação com a energia solar, a falta do mesmo nível de segurança de uma tecnologia consolidada, a complexidade dos projetos, a alta variabilidade de resultados… Em resumo, como salientou Leidiane, a relação entre risco e rentabilidade.

A demanda por amadurecimento tecnológico, conforme Rodrigo Garcia, coloca o setor de biogás e biometano em um patamar vivido pelo setor de energia solar há mais de 10 anos. E enxerga uma aceleração nesse sentido. “O mercado está respondendo, as coisas estão acontecendo. Daqui a dois ou três anos, vamos ver esse crescimento”, pontuou.

Mecanismos de fomento

Gabriel Kropsch, da ABiogás, que dividiu o espaço de fala com Emerson Ribeiro Lourenço, do SEBRAE, contrapôs. “Eu não tenho a menor dúvida de que no setor de biogás a tecnologia está mais do que consolidada porque é a mesma no mundo inteiro. Então, qual é a diferença entre o momento (da energia fotovoltaica) em 2021 com o nosso momento? Nunca houve leilão (de energia elétrica) para a fonte biogás. É um absurdo! Essa é uma diferença fundamental. Isso traz uma questão para o financiamento que é a garantia: o contrato de venda da energia. Um contrato de 20, 30, 35 anos de venda de energia. Você vai com esse contrato no banco e ele está com o teu cheque na hora”, destacou, ressalvando companhias distribuidoras de gás, como a Compagas, com um olhar mais atento ao setor e iniciativas como chamadas para compra, equivalentes, em peso, como garantia para angariar financiamentos.

“Talvez esse seja um setor que nunca tenha olhado para a Fomento Paraná como um possível parceiro”, cogitou Vinicius José Rocha, da instituição paranaense, mais uma alternativa para financiamentos que atende também projetos de pequeno porte e tem linhas especiais, como o Banco da Mulher, com investimentos de ‘R$ 1.000 a R$ 500 mil’. “Muito do crédito que a gente trabalhou nos últimos quatro anos, devido à pandemia, foi para capital de giro, muito pouco pensado para investimento.” E manifestou o esforço da Fomento Paraná em ser parceira na área de biogás e biometano. “Somos repassadores do BNDES. E como repassadores temos as mesmas regras deles. É um desafio nosso estarmos à disposição do setor para termos uma entrada maior.”

Luciano Figueredo, do Instituto Totum, trouxe o tema dos ativos ambientais do biogás: CBIO, GAS-REC e I-REC, soluções que trazem rentabilidade ao setor, além do banco e das instituições de fomento. A proposta de receitas múltiplas também tem potencial para defender a viabilidade de projetos de biogás e biometano. “A ideia é essa: você ser premiado pelo trabalho que faz em relação à transição de energia, pela produção de um gás renovável que pode ser utilizado para geração de calor e em substituição a um combustível fóssil”, explicou Figueiredo, que, durante a apresentação, incluiu os créditos de carbono, uma alternativa mais complexa do que o GAS-REC e o IREC, mas também um ativo que deve impulsionar a rentabilidade do setor.

No debate, Leidiane apontou a iniciativa Sebraetec, uma parceria do Sebrae e da ABiogás, como ponto de convergência entre as falas no painel. Na sua apresentação, Emerson Ribeiro Lourenço, do Sebrae, compartilhou a solução que tem o desafio de dar segurança, eficiência técnica e viabilidade a projetos de biogás, capacitar pessoas e fortalecer os diversos atores da cadeia de biogás e biometano. “Hoje, o Sebrae, dentro do programa Sebraetec, tem um recurso de aproximadamente R$ 350 milhões. Desse recurso, menos de 1% é voltado para o setor de energia. Porque não temos uma quantidade grande de fornecedores. Muitas vezes, o empreendedor não vê a área de energia como um potencial modelo de negócio ou uma possibilidade de reduzir custos no produto final. Nós, do Sebrae, queremos expandir fornecedores, aproximar esse programa dos pequenos negócios e dos grandes empresários também, porque eles podem ser fomentadores de desenvolvimento. E isso pode, efetivamente, transformar a realidade.”

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Foto: Roberto Lemos