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No Roteiro 1, realizado na planta do Grupo Cetric, os visitantes puderam compreender o sistema de geração de energia baseado na captação de biogás na central de processamento de resíduos

Visitas técnicas para conhecer plantas de biogás em Santa Catarina

Cerca de 150 participantes do 6º Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano estiveram nas visitas técnicas, no último dia do evento (18/04). Nesta edição, foram organizados três roteiros em cidades do Oeste e Meio-Oeste catarinense: as visitas foram à Central de Tratamento de Resíduos Sólidos da empresa Cetric, em Chapecó; o segundo roteiro teve como destino a unidade da Embrapa Suínos e Aves e a Granja Benelli, ambas em Concórdia; e o terceiro roteiro levou o grupo até a Granja São Roque, em Videira, e à Leitaria Tirolesa, em Treze Tílias.

Os participantes puderam conhecer na prática exemplos de produção de biogás e suas aplicações na indústria e em propriedades rurais, ouvir explicações e conversar com responsáveis pelos projetos nos locais.

Chapecó

No Roteiro 1, realizado na planta do Grupo Cetric, os visitantes puderam compreender o sistema de geração de energia baseado na captação de biogás na central de processamento de resíduos, um dos assuntos tratados no 6º Fórum, no Painel 2.

No local, os visitantes viram de que forma os resíduos orgânicos entregues ao aterro industrial chegam à planta de geração de biogás em biodigestores, secadores de lodo, para geração de energia elétrica.  Já o biometano é utilizado na frota própria da empresa, em 15 caminhões híbridos, e um caminhão movido 100% a gás biometano. A frota está sendo ampliada, pois a empresa adquiriu, recentemente, 28 caminhões movidos a biometano, que devem entrar em operação ainda neste primeiro semestre.

No início da visita, os participantes foram recebidos pela responsável técnica e diretora de operações da empresa, Loana Defaveri Fortes, que apresentou a estrutura do local, o processo de solidificação para resíduos perigosos e não perigosos, o bioprocessamento de resíduos, tratamento térmico e outros sistemas adotados no local.

A Cetric trabalha com resíduos perigosos e não perigosos. Loana destacou que a empresa também tem foco nos resíduos orgânicos que recebe de clientes. O gerenciamento desse tipo de resíduo é feito por meio de biodigestores pra produção de biogás. No local, há cinco biodigestores, sendo um deles com assistência da empresa Archea, patrocinadora Prata desta edição do Fórum.

Atualmente, a Cetric tem produção de biogás para energia, como fonte de calor e faz purificação de biogás em biometano. Conforme Loana, todo o substrato resultado de efluentes, lodos e resíduos orgânicos recebidos dos clientes e que passam por processo de biodigestão têm como destino o sistema de tratamento de efluentes. Por esse sistema recebe todo tratamento, desde primário, secundário e até osmose reversa.

Na visita, os participantes receberam explicações dos técnicos da empresa, sobre o processo. No local do tratamento por osmose, por exemplo, puderam verificar que o efluente tratado, na sequência, passa por processo de desmineração que transforma também em Arla 32 (uma solução líquida que reduz a emissão de poluentes produzidos na queima do diesel).

Ao concluir a visita, os participantes tiveram a oportunidade de entender sobre o funcionamento da estação de atendimento emergencial, mais um serviço prestado pela Cetric, empresa que foi patrocinadora Master da sexta edição do Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano.

O Grupo Cetric, por meio de votação pública, ganhou o terceiro lugar no Prêmio Melhores do Biogás Brasil na categoria Planta/Unidade Geradora de Biogás Indústria.

Concórdia

No Roteiro 2, que se estendeu da manhã ao final da tarde, o grupo de participantes esteve na sede da Embrapa Suínos e Aves, instituição realizadora do Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano. No local, o grupo foi recebido pelo pesquisador Ricardo Steinmetz e por outros integrantes da equipe da unidade. Eles detalharam pesquisas e trabalhos desenvolvidos no local, com foco nas demandas das cadeias produtivas e de sustentabilidade, por meio de projetos nas áreas de sanidade animal, de sistemas de produção e nutrição, de segurança dos alimentos, de melhoramento genético, meio ambiente e outras.

A área da Embrapa (foto ao lado) no município tem o total de 210 hectares e, em parte dela, os visitantes conheceram a unidade de produção de biogás e o biodigestor, além de laboratórios, como os de biogás e de análises físico-químicas, todos voltados a pesquisas na área. É uma planta com foco inicial na demonstração.

Mais tarde, na Granja Benelli (foto abaixo), o grupo conheceu a propriedade familiar que se dedica à criação de cerca de 5 mil suínos  e aproveita os dejetos e as carcaças de animais mortos, que são triturados antes de chegarem ao biodigestor, para produção de biogás, convertido em energia elétrica que abastece o local. O manejo é o diferencial na propriedade, que usa também uma cisterna de lona, cuja água serve para a criação dos animais. Na área estão três biodigestores e um gerador.

Rodrigo Benelli apresentou a planta aos visitantes, que tem como principal objetivo gerar economia e fonte de renda, contribuindo com o meio ambiente. A unidade opera com volume aproximado de 50 m³ por dia, passando pelo sistema de lagoa coberta onde é extraído o biogás e destinado ao motor para geração de energia. São aproximadamente 1.000m³ de biogás por dia.

Além da geração de energia é aproveitado o calor do escapamento e com um trocador de calor se aquece o dejeto, evitando quedas bruscas de temperatura interna do lodo e, consequentemente, tendo um melhor aproveitamento do seu potencial. No processo, também há geração de biofertilizante, utilizado nas lavouras para produção de milho.

Videira e Treze Tílias

O Roteiro 3 apresentou soluções em produção de biogás para grandes e pequenos volumes de dejetos da pecuária para os participantes que estiveram nessa visita técnica, o roteiro mais longo ofertado nessa edição do evento. Em uma maratona de 16 horas, da saída ao retorno a Chapecó, foram conhecidas as unidades de produção de biogás na Granja São Roque (Master Agroindustrial), em Videira, e na Leitaria Tirolesa, em Treze Tílias.

Na primeira parada, pela manhã, Airton Kunz, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, conduziu a visita na Granja São Roque e apresentou o sistema do qual ele mesmo é figura central no desenvolvimento, o Sistrates (Sistema de Tratamento de Efluentes da Suinocultura). Na chegada, Kunz apresentou o triturador de carcaças de animais mortos não-abatidos tema da apresentação de Daiana Martinez, da Central de Bioenergia de Toledo/PR, no painel 2 do Fórum. O equipamento dá destinação adequada a cerca de 1.500 quilos por dia de matéria orgânica, que potencializam a produção de biogás.

Em operação há cinco anos (e resultado de, pelo menos, uma década de pesquisas) o Sistrates trata o dejeto suíno em três módulos. No módulo Bio; módulo Nitrogênio (N); e no módulo P.

Além de controlar a poluição do ar, do solo e dos recursos hídricos, o Sistrates gera economia, potenciais fontes de renda e benefícios ambientais em todas as etapas do processo. “Uma granja como essa teria o impacto ambiental de uma cidade com 300 mil habitantes”, compara Kunz, ao dimensionar o lucro ecológico do manejo adequado de aproximadamente 50 m³ de dejeto por dia (capazes de gerar 1.000 m³ de biogás por dia), na granja que, atualmente, aloja 10 mil matrizes e produz 300 mil leitões por ano. Os resultados que a Granja São Roque tem alcançado – e que ainda estão por vir, via pesquisa na parceria com a Embrapa –, deram à unidade, via votação pública, o prêmio Melhores do Biogás Brasil no 2º Lugar da categoria Melhor Planta/Pecuária.

Ao final da visita, os participantes ouviram de Kunz e de quem opera o Sistrates que não é necessário um negócio da dimensão da Granja São Roque para viabilizar um sistema do porte do Sistrates: a solução pode estar na integração de pequenas propriedades em um ponto de convergência da recepção de dejetos. E um bom exemplo do porte de negócio ao qual a fala se refere foi objeto da segunda visita deste roteiro, em Treze Tílias: a Leitaria Tirolesa.

“Quando começamos a buscar por uma alternativa para a produção de biogás, o que eu encontrava era vendedor dizendo que é muito simples e que funciona, e produtor dizendo ‘não entre nisso que é uma furada’”, contou Arno Thaler, proprietário da leitaria, que transforma em energia elétrica o biogás obtido por meio de dejetos de 180 vacas em lactação e, esporadicamente, sujeita a entrada de lote, os dejetos de 1.200 suínos em fase de terminação. Nem tão simples, nem tão complexo, conclui Arno, ao alertar tanto sobre o discurso dos vendedores quanto de produtores rurais. “Já ouvimos no próprio Fórum: às vezes, você ganha uma venda e estraga um mercado”.

“Agitação, aquecimento e tratamento de gás”, descreve Arno a operação do biodigestor, contratado da Biokholer, patrocinador bronze dessa edição do Fórum. Segundo a empresa que assina a obra, “o diferencial é a alimentação direta do biodigestor com os dejetos bovinos sem a utilização de separador de sólidos.

Depois de um dia intenso e de alta carga de informação, teve cerveja artesanal e pôr do sol na Cervejaria Trezetiliense, ao lado da Leitaria Tirolesa: um brinde a quem teve a experiência mais duradoura no Fórum de Chapecó.

O Fórum
O Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano é realizado por instituições dos três estados do Sul do país: Embrapa Suínos e Aves (SC), Centro Internacional de Energias Renováveis – CIBiogás (PR) e Universidade de Caxias do Sul (UCS), e tem a organização da Sociedade Brasileira de Especialistas em Resíduos das Produções Agropecuária e Agroindustrial (Sbera).  A edição de 2024 ocorreu em Chapecó (SC) de 16 a 18 de abril.

Patrocínio Master: Grupo Cetric, Itaipu Binacional e SCGÁS
Patrocínio Ouro: Compagas, Ecogen, Galileo Technologies, MDC, (re)energisa, Retzem, Sanepar e UBE.

Fotos: Divugalção/FSBBB